domingo, 25 de outubro de 2009

Primer Encuentro Internacional Respecto a las Accciones de Armas Sobre las Costas del Rio Uruguay en la Guerra del Paraguay – Guerra Guazú


A convite do historiador e artista plástico uruguaianense Carlos Fonttes, membro da Academia de História Militar do Brasil, participei do Primer Encuentro Internacional de Historia Respecto a las Acciones de Armas Sobre las costas del Rio Uruguay en la Guerra del Paraguay – Guerra Guazú, realizado em Paso de los Libres, República da Argentina, e Uruguaiana, Brasil. O encontro ocorreu entre 27 e 29 de setembro de 2009, com a participação pesquisadores argentinos, brasileiros e paraguaios. Ao todo, aproximadamente 250 pessoas participaram do encontro.
Ao longo de três jornadas iniciadas no sábado, 27 de setembro, com as atividades protocolares tradicionais, se apresentaram três mesas expositoras. A primeira delas teve como tema “As duas grandes vertentes sobre a Guerra da Tríplice Aliança. Análise da Historiografia Paraguaia”, com exposições do Arquiteto Carlos Von Horoch, do Doutor e Escritor José Luis Acosta e do Licenciado Humberto Trindade.
Segundo os palestrantes duas correntes de opinião consolidaram-se quanto a Guerra do Paraguai, chamada de Guerra da Tríplice Aliança, pelos paraguaios: Lopismo e Antilopismo. Em resumo, os defensores da primeira corrente, em termos simplificadores, têm Francisco Solano Lopes como um herói nacional que procurou construir uma grande pátria, uma nação independente e forte, rivalizando com a Inglaterra. E foi vencido pelo imperialismo inglês, que usou o Brasil, a Argentina e o Uruguai, como instrumentos para destruir a República do Paraguai. Para a segunda corrente Lopes era um caudilho ambicioso, que levou o Paraguai à destruição, numa guerra provocada por sua ambição pessoal desmedida.
A segunda mesa, sob o tema “As Campanhas do Paraguai na Guerra da Tríplice Aliança. Análise das causas do fracasso das campanhas do Sul”, contou com o Licenciado Fabian Chamorro, a Doutora Natália Ántola e Licenciado Edgar Cáceres. Esses estudiosos paraguaios dissertaram sobre as “campanhas do Sul”, que os aliados denominam “invasão paraguaia da Argentina e do Brasil”. Foi o ponto polêmico do Encontro. Seguindo o general brasileiro J. Leal, presente ao evento, também me insurgi, quanto ao “heroísmo” conferido à campanha do Mato Grosso, como é visto pelos historiadores paraguaios.
A terceira mesa desenvolveu o tema “As campanhas defensivas na Guerra da Tríplice Aliança. O Quadrilátero, Curupaiti, Humaitá. Tomada das Cordilheiras. Morte de Lopes e fim da Guerra”. Palestraram a Doutora Grizzie Logan, a Engenheira Adriana Benítez e o Doutor Eduardo Nakayama. Os palestrantes falaram sobre a atuação das forças armadas paraguaias uma vez vencidas nos territórios do Brasil (Rio Grande do Sul e Mato Grosso) e da Argentina (Corrientes e Entre-Rios).
A delegação paraguaia, formada por jovens estudiosos, demonstrou um grande conhecimento da Guerra Guazú (Guerra Grande), como também é chamada. Os palestrantes, especializados em diversas disciplinas, muitos dos quais com cursos de pós-graduação e doutorado no exterior, impressionaram pelos conhecimentos históricos, estratégicos e militares dos acontecimentos bélicos.
No domingo, 28 de setembro, com o apoio de veículos, soldados e oficiais do Exército Argentino, realizou-se estudo de campo no local onde se desenvolveu a Batalha de Yatay, travada no dia 17 de agosto de 1865, entre as forças da Tríplice Aliança e a parte do exército paraguaio que ocupou o lado argentino. Durante mais de quatro horas historiadores argentinos, brasileiros e paraguaios, refizeram, a pé, os percursos das forças em luta. A recuperação dos movimentos militares é extremamente facilitada porque o local está dividido em chácaras. À época da batalha essa divisão já existia. Como as plantas da batalha apóiam-se nas chácaras e ruas a essa restituição é bastante aproximada da situação real do confronto.
Foram apresentadas maquetes, cartas e documentos ainda inéditos em Paso de los Libres. Documentos da época da batalha foram confrontados com mapas de satélites e GPS.
À noite, no salão do Clube Progresso, em Paso de los Libres, palestraram representantes da delegação brasileira.
Paulo Monteiro, da Academia Passo-Fundense de Letras falou sobre a contribuição de Passo Fundo para a guerra contra o Paraguai. Distribuiu um texto, parte de uma série de programas radiofônicos apresentados na Rádio Planalto, em 2007, durante as comemorações do sesquicentenário de emancipação político-adiministrativa da “Capital do Planalto”. Concluiu lendo uma crônica de memória familiar sobre a guerra. Emocionados, os representante da delegação paraguaia admiraram a fotografia do Coronel Chicuta, que liderou o último feito das armas aliadas: a rendição do general Belarmino Cavallero e seus comandados.
Renato Fagundes de Abreu, presidente do Centro Cultural Guarani, de Porto Alegre, falou sobre a importância da Língua Guarani, como elemento de aproximação entre Brasil, Argentina e Paraguai.
Laurindo Souza, presidente da Sociedade Tradicionalista de Uruguaina, emocionou a todos com a declamação do poema “Negra Velha”, de Aparício Silva Rillo.
Na segunda-feira, dia 28, o centro do encontro mudou-se para Uruguaiana. Visitou-se o Centro Cultural Dr. Pedro Marini, onde estão depositados objetos históricos como a espada que Dom Pedro II portava no momento em que os paraguaios se renderam em Uruguaiana. A seguir o Secretário Municipal de Cultura, coronel Brasil Carus, recepcionou os visitantes com um café na belíssima Biblioteca Municipal Luiz do Prado Veppo.
Decidiu-se que os encontros serão realizados anualmente, com alternância entre os países envolvidos na guerra. Em 2010 os pesquisadores encontrar-se-ão no Paraguai para visitarem o Quadrilátero, como denominam os paraguaios, à série de batalhas travadas durante a guerra no solo daquele país.
Apesar das limitações impostas pelo ineditismo desse tipo de evento, revelou-se altamente positivo, pelo fato de reunir pesquisadores de diferentes nacionalidades, influenciados por diferentes e até divergentes concepções históricas.
O conhecimento “in loco” das batalhas revelou-se de suma importância deixando à mostra as limitações do conhecimento histórico tradicional, baseado em textos acadêmicos. A realidade visual dos espaços onde se desenrolaram os acontecimentos bélicos contribui para uma clareza melhor da história enquanto narração dos fatos.

Paulo Monteiro

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