domingo, 25 de outubro de 2009

Jeca Tatu e Sobrenatural de Almeida


No dia 20 de outubro, juntamente com a Biblioteca Municipal, nós, da Academia Passo-Fundense de Letras, promovemos um café literário, lembrando os noventa anos do aparecimento de Jeca Tatu, em livro, e o sexagésimo aniversário de falecimento do seu criador, Antonio Bento Monteiro Lobato. Como sempre, apoiou-nos, o professor Eládio Weschenfelder. Previdente, comecei a preparar minha participação com antecedência, encasquetado com a afirmação recolhida alhures de que Jeca Tatu teria sido retirado de página de Contrastes e Confrontos. Recorri das páginas do grande clássico e nada encontrei.
Ainda mais encasquetado viajei para o Rio de Janeiro, onde fomos recebidos para o chá da Academia Brasileira de Letras na quinta-feira, 25 de setembro. E fui decido a me dar como presente de aniversário, no dia seguinte ao encontro na Casa de Machado de Assis, exatamente uma edição das Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas, de Bocage, à venda na Livraria Rio das Letras, lá, na ex-capital da República.
Na data planejada, localizei a livraria e comprei o livro desejado. Enquanto o livreiro procurava a obra pretendida, estranhamente escondida em meio a volumes pouco poéticos, dei de cara com uma raríssima primeira edição da Obra Completa de Euclides da Cunha (Companhia José Aguilar, 1966), que acabei adquirindo por menos da metade do preço.
De volta ao hotel, dentro do Volume I, numa propaganda amarelada do livro Cartas na Mesa, de Agatha Christie, agora servindo como marcador de texto, antigo leitor gravara a seguinte anotação: Pagina – 182. Vou ao local indicado e lá está a fonte de onde Monteiro Lobato retirou a personagem piromaníaca, o primeiro dos seus três Jecas Tatus.
Voltei ainda mais encasquetado, desta vez com o absurdo da história. Um camarada sai de Passo Fundo decidido a adquirir justo um volume a mil e tantos quilômetros de casa. Lá, encontra a solução para uma preocupação literária, em velha anotação deixada por um desconhecido no interior da rara edição do autor de Os Sertões.
Mal sabia eu que fui conduzido por um personagem revelado por Nelson Rodrigues, após o goleiro do Fluminense defender um pênalti e os dois rebotes seguidos em jogo contra o Flamengo. Pelo visto, Sobrenatural de Almeida, além de apreciador do futebol, era um atilado leitor dos clássicos brasileiros.

Paulo Monteiro

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