sexta-feira, 6 de novembro de 2009

ECONOMIA, POLÍTICA E LITERATURA


As ligações entre economia, política e literatura apresentam muito mais pontos de encontro do que se imagina. É o que se viu e ouviu nos diversos debates ocorridos durante a 13ª Jornada Nacional de Literatura, concluída há poucas horas. Tive, durante o evento, a oportunidade de encontrar exemplos práticos desse vínculo. Seja durante as manhãs acompanhando os imortais brasileiros que participaram do 3º Encontro da Academia Brasileira de Letras – Revisitando os Clássicos III; seja à tarde, nas diversas entrevistas que gravei para o programa Literatura Local, que é uma parceria entre a Academia Passo-Fundense de Letras e a TV Câmara; seja, ainda, em conversa direta com escritores.
Um dos exemplos mais paradigmáticos, encontrados durante a Jornada, é do livro MINHA TRAJETÓRIA, que tem o sugestivo e nada enigmático subtítulo UM VENDEDOR NO MUNDO DOS NEGÓCIOS E DA POLÍTICA, de Moacir Volpato. Em 199 páginas autobiográficas, o Autor traça a história de sua vida, desde 16 de janeiro de 1948, quando nasceu no interior de Herval d’Oeste, Estado de Santa Catarina, filho de um pequeno agricultor e oleiro, até hoje, data em que é pré-candidato ao governo do Estado do Rio Grande do Sul, pelos Democratas.
A pequena agricultura contribuiu para a ascensão econômica dos imigrantes europeus que se estabeleceram no Sul do Brasil, não de per si, mas ao associar-se com a manufatura e o comércio. Os estudiosos de nossa colonização, como todos os historiadores imediatos ou locais, sofrem de cegueira histórica, produzida e demonstrável fisicamente, pela proximidade com o objeto de análise. As autobiografias, em muitos aspectos são muito mais esclarecedoras que as volumosas e intragáveis monografias e dissertações acadêmicas. Escritas com o coração e a passionalidade acabam retratando melhor o “ruach”, o sopro primordial dos indivíduos e das sociedades, do que obras que pretendem gravar a história.
As autobiografias confirmam a velha afirmativa do autor de “A Riqueza das Nações”: “Um homem que emprega muitos operários enriquece; o que emprega muitos serviçais empobrece”. “MINHA TRAJETÓRIA”, apenas vem confirmar a exatidão do ensinamento de Adam Smith.
Homem destituído de instrução formal, Vergílio Mateus Volpato, pai do Autor, era um instintivo genial. Em outras palavras tinha uma inteligência inata, comprovando a máxima atribuída ao Barão de Itararé: “Diploma não encontra orelha de ninguém”. Planejava o que faria, discutindo consigo mesmo, como visto em certas passagens de sua vida. O filho herdou esse tirocínio, que lapidou, em cursos, conversas e viagens ao longo do tempo. Com isso montou uma rede com mais de 60 lojas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. E procura encurtar orelhas, com palestras e, agora, com o livro.
O primeiro ensinamento é o destemor, a decisão, como exemplifica, em várias passagens da obra; o segundo e não menos importante, adquirir a confiança do cliente, não mentido e tratando a todos com seriedade e respeito. E, ao longo do livro, vão sendo apresentadas pequenas receitas sobre o assunto.
Moacir Volpato sempre teve envolvimento social. Não o diz, mas deve ser um aprendizado que vem da infância, acompanhando a vida nas pequenas comunidades de origem italiana. As discussões partidárias que ali presenciou contribuíram para interessá-lo pela chamada vida pública, já em Ciríaco, apoiando um seu funcionário que se elegeu vereador, já em Lagoa Vermelha, cidade onde está a sede das Lojas Volpato, já como pré-candidato ao governo do Estado.
Economia, política e literatura é o que “MINHA TRAJETÓRIA” transpira. E o transpira como um manifesto político. Um vendedor que deu certo no mundo dos negócios dá certo no mundo da política, é o que leio, com os olhos da crítica, no subtítulo do seu livro. Os dados que apresenta sobre os oito anos em que administrou Lagoa Vermelha, zerando a mortalidade infantil que era de 23 por ano, entre outros, comprovam minha leitura. Bem escrito e sóbrio, o tom coloquial contribui para uma agradável leitura. É também a obra de “um vendedor no mundo da literatura”. E um vendedor que convence, ao oferecer suas idéias de maneira agradável, sem o tom grandiloqüente dos velhos manifestos políticos. Valeu a leitura. (Na fotografia aparece Moacir Volpato entre Paulo Monteiro e Sara Adalía, jovem integrante do movimento Poetas del Mundo).

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