
“História do Sindicato dos Bancários de Carazinho e Região: as Três Fases” (Berthier, Passo Fundo, 2009), da historiadora Silvana Moura, conta a trajetória dos bancários carazinhenses. É uma história que começa na década de 1910, com os correspondentes bancários, que precederam a primeira agência bancária no ainda 4º distrito de Passo Fundo.
Em 31 de julho de 1952 um grupo de 58 bancários criou a Associação dos Bancários de Carazinho, transformada em Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Carazinho, em 22 de junho de 1956. Os sindicalistas da categoria, até a contra-revolução de 31 de abril de 1964, caracterizaram-se pelas práticas reformistas, muito próximo daquilo que, no jargão político, se convencionou chamar de “peleguismo”. Isto, apesar da presença de lideranças ligadas ao que viria transformar-se no Partido Comunista Brasileiro, o “Partidão”. Dois desses líderes, João Alcindo Dill Pires, hoje anistiado, e Eduardo Azambuja, falecido, foram presos e sofreram as agruras da perseguição ditatorial.
Depois do golpe contra-revolucionário seguiu-se um período em que o sindicato foi amordaçado. As coisas chegaram a tal ponto que até mesmo atas não foram lavradas, durante longos espaços.
A terceira fase começou em setembro de 1985, oportunidade em que uma pequena e combativa “célula” de funcionários do Banco do Brasil provocou o fechamento das agências bancárias de Carazinho, antes que a paralisação se efetuasse nas demais cidades da região. Um “novo sindicalismo” consolidou-se no dia 12 de março de 1986, quando a “Renovação Bancária” derrotou fragorosamente os situacionistas. A base desse movimento foram os líderes grevistas do ano anterior. É uma fase que, no entendimento de Silvana Moura, continua até hoje.
Meu contacto com “História do Sindicato dos Bancários de Carazinho e Região: as Três Fases” iniciou-se há poucos dias quando, na Conferência Municipal de Cultura, reencontrei-me com a historiadora Silvana Moura, que me entregou um exemplar do livro. Exatamente uma semana depois reencontramo-nos durante o lançamento da obra na 23ª Feira do Livro de Passo Fundo. A Autora se fazia acompanhar de um dos personagens centrais da história, José Renato Stangler, ex-presidente daquela entidade de classe, atual juiz do trabalho em Soledade.
Confessei-lhe que senti uma falha na obra: o quase nulo espaço dedicado às organizações político-partidárias que atuaram no movimento sindical carazinhense. Confessei-lhe mais: ou a Autora esqueceu por não considerar importante esse estudo ou por temor de ferir suscetibilidades locais.
Acabamos eu, a historiadora e o ex-sindicalista bancário conversando sobre aspectos particulares das lutas políticas e sociais de Carazinho. “Foi um ato falho”, resumiu Silvana, admitindo que as linhas dedicadas aos confrontos políticos e sociais naquele município poderiam ter-se estendido por algumas páginas, pelo menos.
Concluí que a Igreja Católica Romana, dominado a imprensa, e a Igreja Luterana, controlando a máquina administrativa municipal, implantaram, nos anos de 1940, uma cultura política anticomunista e, por extensão, anticontestatória, que plasmou uma sociedade civil submissa. Esse controle é de tal monta que influi até mesmo sobre as análises dos pesquisadores mais lúcidos que se dediquem a estudar a vida política e comunitária do município.
Há mais de um século e meio, em suas “Lições Sobre a Filosofia da História Universal”, o velho Hegel, já destacava as limitações e dificuldades para escrever aquilo que ele definia como “história imediata”. Desta, a história local e a micro-história, formam partes inseparáveis, onde se inscrevem livros como “História do Sindicato dos Bancários de Carazinho e Região: as Três Fases”.
A importância dos livros de história local e micro-história é inegável. Não lhes diminuem essa importância as limitações neles encontradas. O estudo desse tipo de obra é fundamental. Comprovam-no tratados que exerceram grande influência, a começar pelos grossos tomos do inconcluso “O Capital”, de Karl Marx, “discípulo” de George Hegel.
Nada é mais parecido com um livro do que a árvore. Como estas, das quais seu corpo é originário, as perfeições e imperfeições tomam a proporcionalidade do seu tamanho. “História do Sindicato dos Bancários de Carazinho e Região: as Três Fases” é um estudo vigoroso. Veio para ficar, ainda que, por enquanto, imperceptível como aquela sequóia que cresce na Praça Ernesto Tochetto, em Passo Fundo.
Paulo Monteiro
Oi Gostaria de entrar em contato com a autora sera possivel? Obrigado. Email: catalog1@sbachbooks.com.br
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