domingo, 22 de novembro de 2009

História do Sindicato dos Bancários de Carazinho e Região


“História do Sindicato dos Bancários de Carazinho e Região: as Três Fases” (Berthier, Passo Fundo, 2009), da historiadora Silvana Moura, conta a trajetória dos bancários carazinhenses. É uma história que começa na década de 1910, com os correspondentes bancários, que precederam a primeira agência bancária no ainda 4º distrito de Passo Fundo.
Em 31 de julho de 1952 um grupo de 58 bancários criou a Associação dos Bancários de Carazinho, transformada em Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Carazinho, em 22 de junho de 1956. Os sindicalistas da categoria, até a contra-revolução de 31 de abril de 1964, caracterizaram-se pelas práticas reformistas, muito próximo daquilo que, no jargão político, se convencionou chamar de “peleguismo”. Isto, apesar da presença de lideranças ligadas ao que viria transformar-se no Partido Comunista Brasileiro, o “Partidão”. Dois desses líderes, João Alcindo Dill Pires, hoje anistiado, e Eduardo Azambuja, falecido, foram presos e sofreram as agruras da perseguição ditatorial.
Depois do golpe contra-revolucionário seguiu-se um período em que o sindicato foi amordaçado. As coisas chegaram a tal ponto que até mesmo atas não foram lavradas, durante longos espaços.
A terceira fase começou em setembro de 1985, oportunidade em que uma pequena e combativa “célula” de funcionários do Banco do Brasil provocou o fechamento das agências bancárias de Carazinho, antes que a paralisação se efetuasse nas demais cidades da região. Um “novo sindicalismo” consolidou-se no dia 12 de março de 1986, quando a “Renovação Bancária” derrotou fragorosamente os situacionistas. A base desse movimento foram os líderes grevistas do ano anterior. É uma fase que, no entendimento de Silvana Moura, continua até hoje.
Meu contacto com “História do Sindicato dos Bancários de Carazinho e Região: as Três Fases” iniciou-se há poucos dias quando, na Conferência Municipal de Cultura, reencontrei-me com a historiadora Silvana Moura, que me entregou um exemplar do livro. Exatamente uma semana depois reencontramo-nos durante o lançamento da obra na 23ª Feira do Livro de Passo Fundo. A Autora se fazia acompanhar de um dos personagens centrais da história, José Renato Stangler, ex-presidente daquela entidade de classe, atual juiz do trabalho em Soledade.
Confessei-lhe que senti uma falha na obra: o quase nulo espaço dedicado às organizações político-partidárias que atuaram no movimento sindical carazinhense. Confessei-lhe mais: ou a Autora esqueceu por não considerar importante esse estudo ou por temor de ferir suscetibilidades locais.
Acabamos eu, a historiadora e o ex-sindicalista bancário conversando sobre aspectos particulares das lutas políticas e sociais de Carazinho. “Foi um ato falho”, resumiu Silvana, admitindo que as linhas dedicadas aos confrontos políticos e sociais naquele município poderiam ter-se estendido por algumas páginas, pelo menos.
Concluí que a Igreja Católica Romana, dominado a imprensa, e a Igreja Luterana, controlando a máquina administrativa municipal, implantaram, nos anos de 1940, uma cultura política anticomunista e, por extensão, anticontestatória, que plasmou uma sociedade civil submissa. Esse controle é de tal monta que influi até mesmo sobre as análises dos pesquisadores mais lúcidos que se dediquem a estudar a vida política e comunitária do município.
Há mais de um século e meio, em suas “Lições Sobre a Filosofia da História Universal”, o velho Hegel, já destacava as limitações e dificuldades para escrever aquilo que ele definia como “história imediata”. Desta, a história local e a micro-história, formam partes inseparáveis, onde se inscrevem livros como “História do Sindicato dos Bancários de Carazinho e Região: as Três Fases”.
A importância dos livros de história local e micro-história é inegável. Não lhes diminuem essa importância as limitações neles encontradas. O estudo desse tipo de obra é fundamental. Comprovam-no tratados que exerceram grande influência, a começar pelos grossos tomos do inconcluso “O Capital”, de Karl Marx, “discípulo” de George Hegel.
Nada é mais parecido com um livro do que a árvore. Como estas, das quais seu corpo é originário, as perfeições e imperfeições tomam a proporcionalidade do seu tamanho. “História do Sindicato dos Bancários de Carazinho e Região: as Três Fases” é um estudo vigoroso. Veio para ficar, ainda que, por enquanto, imperceptível como aquela sequóia que cresce na Praça Ernesto Tochetto, em Passo Fundo.

Paulo Monteiro

Um comentário:

  1. Oi Gostaria de entrar em contato com a autora sera possivel? Obrigado. Email: catalog1@sbachbooks.com.br

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