domingo, 22 de novembro de 2009

35 ANOS DE JORNALISMO LITERÁRIO


EM 1º DE JULHO DE 1974 PUBLIQUEI MEU PRIMEIRO ARTIGO DE CRÍTICA LITERÁRIA. E NÃO PAREI MAIS. EI-LO:

“A Sogra de Josias”

Outro dia, quando entrava n’O NACIONAL, com uma convocação da “Nova Geração”, Ivaldino Tasca, que conversava com um moço de olhos vivos e bigodes negros disse-lhe, apontando-me:
– Esse rapaz, aí, é da “Nova Geração”!...
Imediatamente as cartas foram postas sobre a mesa e o redator voltou-se para mim:
– Esse moço acaba de publicar um livro e está procurando o pessoal da Academia e vocês da “Nova Geração”.
Foi assim que conheci José Calegaro, o Autor de “A Sogra de Josias”.
Logo que deixamos o Jornal, após tirarmos um bom cavaco, providenciei em apresentar o jovem escritor aos presidentes da NG e da nossa Academia de Letras.
Confesso que fiquei intrigado com o título de sua obra e sobre isso saí filosofando com meus botões. A Sogra seria de algum Josias bíblico, gentílico ou de carne e osso?
Agora, após a leitura do livro, acho que é a sogra de qualquer um de nós, ainda que do Sr. Solteiro da Silva.
Mas troquemos o saco pela mala.
José Calegaro é um moço de vinte e um anos, natural de Palmeira das Missões e estudando Medicina em nossa Faculdade, pouco conhecido nas rodas livrescas da província, como diria o velho-moço Machado, mas sabendo muito bem que “numa terra de cegos quem tem um olho é rei”. Explico-me: muita gente que nasceu aqui, viveu aqui, morreu aqui, nunca teve (ou tem) coragem de publicar seus trabalhos. É preciso que, de quando em vez, apareça algum forasteiro e publique uma obra. Aliás, creio que o último a beber no velho chafariz e dar-nos um livro foi meu amigo Benedito Hespanha e suas “Galáxias do Homem”.
Faço questão de lembrar o que disse dia 18 do mês passado, durante o lançamento em nossa cidade d”A Sogra de Josias, na Maxmar; ainda que essa obra não seja ótima (como estréia é digna de qualquer grande nome) tem um valor enorme por ser escrita por um jovem, publicando fora de sua terra, num meio que lhe é (ou era) desconhecido quase por inteiro.
Basta que olhemos à História de qualquer Literatura para constatarmos que os grandes movimentos literários e as maiores obras saíram das mãos de jovens, exceto uma “Paulo e Virgínia” e poucas outras. Autores como Wodsworth e Colerige (fundadores do Romantismo), Victor Hugo, Casimiro, Rimbaud, Marinetti, Apollinaire, Trakl, Mário de Andrade, Lorca e muitos outros, confirmam a tese.
A obra de Calegaro tem duas facetas: cotidiana e/ou social.
Como escritor do cotidiano o autor é muito menor, muito mais circunstancial, menos artista, pois arte também é técnica. Seu mérito maior é como escritor social, porque aí “exige mais trabalho”, conforme declarou no “Nova Geração – Presente!”. Se me parece falta-lhe apenas um conhecimento maior dos nossos ficcionistas sociais: Aluízio Azevedo, Domingos Olímpio, Alcides Maia, Euclides da Cunha, Raquel de Queirós, Jorge Amado, Lins do Rego, Graciliano, entre outros; um pouco mais de reflexão e visão do mundo, para a maioridade literária. Trabalhos como Ave Maria Rural, A Costureira, Negrote... E sua alma???, são obras muito boas, recomendam bem qualquer estreante.
Apenas para exemplificar duas passagens de seu livro:
“– (...) Para todo o mundo era só a costureira e nem se dizia mais, que não é preciso.
– Afinal de contas, pobre nem nome tem!”(Pág. 17).
“Lá a coisa foi bem pior: deu uma tremenda inundação e morreram milhares de cabritos, vacas, homens e galinhas”. (Pág. 57). Nessa passagem nota-se a mão do autor. A forma faz o fundo. Fundo e forma são a mesma coisa, aí...
“Há na obra literária, segundo Cândido de Oliveira, uma expressão de tendência individual e outra daquilo que o autor deve ao meio. Taine, segundo o mesmo autor, considera três fatores: raça, meio e momento como decisivos na produção de uma obra de arte literária”. “A Sogra de Josias” se identifica com esse conceito.
Uma feliz estréia a de José Calegaro, que já nasceu escritor; quando a ser um grande escritor está em suas mãos e, particularmente, como membro de um Grupo Literário, apenas almejo-lhe um bom progresso, que não fique apenas com A Sogra de Josias, mas publique outras obras. Que escreva e escreva sempre. Para o escritor, esse é o melhor exercício.

Paulo Moteiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário