domingo, 9 de outubro de 2011

Moacyr Scliar e a valorização da Língua Portuguesa

Ilmº. Sr. Prof. Dr. Francisco Santos, representando o Magnífico Reitor da Universidade de Passo Fundo, Prof. Dr. José Carlos Carles de Souza;
Ilmº. Sr. Acadêmico Domício Proença Filho, Secretário-Geral da Academia Brasileira de Letras, em que saúdo todos os presentes;

Sejam minhas primeiras palavras de agradecimento à professora Tânia Rösing e demais organizadores da 14ª Jornada Nacional de Literatura pelo convite para que a Academia Passo-Fundense de Letras, mais uma vez esteja ao lado da Academia Brasileira de Letras e pela bondade em lembrar meu nome para falar pelos escritores locais, homenageando o acadêmico Moacyr Scliar, cuja biografia está ligada à história das Jornadas.
Quando recebi a missão de falar sobre o conterrâneo Moacyr Scliar neste 4º Encontro da Academia Brasileira de Letras pensei que seria muito difícil. Pouco mais de uma hora depois, ouvindo os confrades Getúlio Vargas Zauza e Odilon Garcez Ayres e os amigos Ernesto Zanette e Júlio César Peres, enquanto degustávamos um cafezinho, em nossos costumeiros encontros de sábado, senti que o jugo dessa responsabilidade era suave, plagiando as palavras de um famoso judeu da Galiléia.
À decadência de uma pessoa, de uma nação ou de um povo corresponde a decadência de sua língua. Assim, não basta a defesa da língua; é mister a preservação de valores e princípios éticos – concluímos.
A obra de Moacyr Scliar, que há menos de dois anos, encontrava-se conosco, no 3º Encontro da Academia Brasileira de Letras, é a comprovação do que apreendemos, entre xícaras de café. As personagens que nos foram legadas por ele, à medida que oscilam, ora para cima, ora para baixo, na escala vital, seguem-lhes a valorização ou a degradação da língua.
Brasileiro e judeu, Moacyr Scliar funde o espírito da língua em que foram transmitidos os poemas que acolhem as proclamações velho-testamentárias à língua em que Luis Vaz de Camões profetizou as grandezas e miudezas do Império Lusitano e os países em que se dividiu. Essa fusão é o que se manifesta através do “humor judeu” de que nos falou Wilson Martins, em texto que anda nas referências ao criador de Guadali Tratskovski. Esse humor “antes rangente que negro, e que se situa a meio caminho entre o desespero e a ironia”, como escreveu o crítico à página 302, do volume oitavo dos seus Pontos de Vista, a mim me parece o mesmo decantado humor de Machado de Assis, que muitos afirmam ser um humorismo à inglesa. É provável que o “humor brasileiro” se pode haver algum tipo de “humor nacional” nos venha dos milhares e milhares de judeus que foram desterrados para Portucale, após a destruição do Templo de Jerusalém. Disso talvez venha nosso imorredouro messianismo, sempre à espera do salvador da pátria.
O humor é a arma dos grandes humanistas. E toda a obra de Moacyr Scliar é uma hosana humanista. Repercutem nas páginas que nos legou a condenação dos sacrifícios de inocentes, até com amplitude maior do que a encontrada nas palavras candentes de Ezequiel. É a condenação da barbárie. É a defesa de que podemos recuperar o Éden perdido, através do trabalho e do amor ao próximo. É a luta entre a civilização e a barbárie.
Moacyr Scliar sempre demonstrou um carinho muito grande pelas Jornadas Nacionais de Literatura. E se assim o fez é porque tinha consciência de que aqui, nestas coxilhas de Passo Fundo, há trinta anos cresce o verde-louro da civilização, em meio ao verde-ouro dos trigais.
Concluo, lembrando que no dia 7 de abril, em sessão solene, a Academia Passo-Fundense de Letras, através das palavras do confrade Odilon Garcez Ayres, homenageou Moacyr Scliar. Moacyr que não morreu, porque assim como todos os dias a luz solar vence as trevas, os grandes humanistas continuam vivos naqueles que empunham a espada da civilização contra a barbárie.
(Discurso Pronunciado pelo acadêmico Paulo Monteiro, no dia 23 de agosto de 2011, na abertura do 4º Encontro da Academia Brasileira de Letras, durante a 14ª Jornada Nacional de Literatura)

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